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Era Anjo?

  • Camila Andrea Braga
  • 21 de out. de 2016
  • 3 min de leitura

Estou vivendo o periodo que antecede o meu aniversário, conhecido como "inferno astral". Aos crédulos essa é a fase em que tudo dá errado, antes de voltar a normalidade. Pois bem, para me fazer crer nesse estado astrológico, hoje sai de casa, tinha que ir ao médico e depois ao Fórum, e no caminho do médico minha sandália começou a se desintegrar, o solado começou a se desfazer.

Mas, antes te continuar com a estória da sandália, tenho que contar outra coisa antes para a coerência do relato.

Em 2009, ou 2010 - se não me engano - fui me confessar no mosteiro de São Bento, trabalhava lá por perto, eles tem confissão quase todos os dias durante um horário compatível com o meu, e os Padres não me conhecem, o que é muito mais tranquilo - pra mim, pelo menos - do que se confessar com o Padre da sua paróquia, que depois vai te entregar a hostia consagrada sabendo os seus pecados.

Fui me confessar com muitos pesares na consciência, me sentindo com a alma e a mente pesadas, temerosa de que meus pecados fossem os mais graves da humanidade. Iniciei a confissão com os pecados que eu achava mais graves, e o padre - um velhinho - só ouvia, pacientemente, fazendo leves "hum-huns" para que eu prosseguisse. Quando achei que já tinha terminado de falar tudo, e aguardava uma penitência enorme, pesada, mas o Padre me deu um "mais alguma coisa minha filha?". Para quem achou que o chão ia se abrir e iria direto pro inferno, até que o padre estava tranquilo. Eu, por um desabafo, e até por uma questão política disse "Sabe Padre, as vezes eu não acredito mais no mundo". E para a minha surpresa foi isso que transtornou o Padre que me disse:

- Ahhhhh, mas isso não pode! Não acreditar no mundo é não acreditar em Deus. Você reza o Credo?

-Rezo (na missa só, mas rezo)

- Você não diz que acredita na comunhão de todos os santos? Os santos somos nós! É a nossa comunhão que eleva o mundo perante os olhos de Deus. Não deixe de acreditar no mundo, porque Deus acredita em nós, e se ele acredita, quem somos nós pra duvidar?

Ok.O que tem a ver com a sandália? Vou continuar o relato da sandália.

Estava garoando, a sola da minha sandália do pé esquerdo se desfazia, os pedaços começaram a cair, até que em minutos ela se partiu e a parte da frente era empurrada pelos meus passos par antecipar o meu pé, o que fazia com que eu caminhasse diretamente no asfalto. Neste momento parei na frente de uma farmácia, perguntei se vendiam chinelos, e a resposta foi negativa (nem mesmo aqueles descartáveis de manicure). Peguei uma sacola plástica e amarrei a sola do meu sapato no meu pé, para tentar conseguir andar sem um contato direto com a lama da rua. Durou cerca de 5 passos. Fui arrastando a sola no chão, para tentar fazer com que ela protegesse, ainda que minimamente meu pé, até eu chegar no supermercado. Atravessei a rua claudicante e uma mulher que tambem se dirigia ao supermercado, ficou me olhando, parou na porta do supermercado e aguardou a minha chegada.

- Isso é de deixar o sapato muito tempo guardado - disse ela.

- Pois é, agora não vai mais ser guardado vai para o lixo.

Foi então que algo surpreendente aconteceu, a mulher olhou pra mim e disse:

- FICA COM O MEU SAPATO!

Falei que "Imagina", que eu ia comprar um chinelo. Ela disse que morava perto, que voltava descalça pra casa e que eu podia ficar com o sapato dela. Falei que ia comprar uma havaianas. Ela então falou para que eu fosse ver se tinha o chinelo, que ela ia ficar me esperando, se não tivesse, ela me entregava o sapato. Tinha o chinelo, agradeci a mulher (que realmente ficou me esperando), passei no caixa e fui embora.

Estava tão atordoada, pensando na logística, nos custos, nos afazeres do dia, que na hora nem dei muita importância, mas durante o dia fiquei pensando: "é a nossa comunhão que eleva o mundo perante os olhos de Deus".

Uma mulher ve uma total estranha na rua, e lhe oferta o sapato que tem nos pés, e se dispõe a trocar de lugar, de assumir o apuro por nenhum outro motivo se não o de me ajudar.

Fiquei pensando, por quem eu me descalço? Pelo que eu me dispo de vaidades, de convenções e de confortos?

Será que eu com a minha vida, comungo e elevo o mundo perante os olhos de Deus? Será que eu estou servindo satisfatoriamente a expectativa de Deus para mim? Será que aquela mulher era um anjo?


 
 
 

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