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"Quem quer brincar põe o dedo aqui, que já vai fechar, o Abacaxi" e a cultura da exclusão.

  • Camila Andrea Braga
  • 13 de mar. de 2017
  • 5 min de leitura


Todo mundo na escola tinha sua panela, tinha sua turma, tinha seu lugar. Poderia ser um lugar que se estava ocupando por prazer, ou pela identidade com as outras pessoas, ou por segurança. Afinal, destoar e ficar isolado, machuca. As vezes escolhiamos algum lugar para não correr o risco de não ficar em lugar nenhum.

Difícil encontrar alguém que não tenha sofrido na escola, no acampamento, no prédio, na galera da rua, por algum motivo, o que hoje, deram o nome de Byllying. Todo mundo passou e a grande maioria também praticou e tudo mundo sobreviveu, uns com mais, outros com menos cicatrizes, mas passou. Ou deveria.

Essa semana após outra publicação uma moça postou "não consigo fazer amigos". Fiquei chocada! E fiquei preocupada. Fiquei triste em saber que, infelizmente, ainda excluímos.

A maturidade deveria nos fazer parar de implicar, ou, na pior das hipóteses, parar de ligar, porque já provamos o que tínhamos que provar, já temos os amigos da vida inteira, já sabemos quem somos e fizemos as pases com nós mesmos. A maturidade chega, deveria ter chegado.

Comecei num trabalho novo. Logo na primeira semana, aos cochichos, uma colega de trabalho falou "tem uma menina aqui, que ninguém gosta dela. Vamos sair pra almoçar, mas não vamos chamá-la, todos saem de fininho e se encontram lá embaixo, porque ela é tão "sem noção" que se convida para ir junto". Eu ouvi, pensei, e olhei para o calendário do computador, para me certificar que não tinha aberto um portal que tivesse me transportado para 1992. Pensei: Sério isso?

Sim eu sofri "bulliyng". Não gosto muito deste termo, porque acho que o "bullying" é uma forma mais gravosa das implicações, apelidos e perturbações que sofremos na infância e adolescência. Mas sim, implicaram comigo por diversos motivos, pelo meu peso, pelo meu nariz, pelas minhas roupas, pela minha condição social. Eu era uma menina de classe média, que os pais estavam se esfalfando para dar uma escola de qualidade, em um colégio de "meninos ricos". Eu tinha aula de artes. Aula mesmo, tinha prova teórica além dos infindos trabalhos manuais. Aprendi a fazer gravuras com linóleo, desenhar com carvão, com giz pastel, fiz esculturas de argila, pinturas com aquarela, pintura a óleo, etc. E os materiais eram muito caros. Lembro de um dia abrir meu estojo com os lápis do ano anterior e sofrer a reprovação "Nossa, sua mãe não comprou material novo". Fiquei com vergonha dos meus 6/8 de lapis. Reprovações como "Você nunca foi pra Disney?", e questionamentos como se eu não ia comprar determinadas roupas e acessórios sempre me rondaram. Eu estava muito longe de ser a menina popular da escola. Mas tinha minha turma, era um elo entre as CDF's, e as bagunceiras. Tirava nota, mas ia voluntariamente para a recuperação, porque a outra parte das minhas amigas estava lá. Eu tinha um lugar seguro.

Vítima? As vezes. Santa? Longe Disso.

Já fui das que implicava. Desde pequena eu ia para um acampamento de férias. Acampamento cristão. Então, além de nos divertirmos tínhamos a missão de nos tornarmos pessoas melhores. Mas crianças são más. Tinha sido isolada em uma das temporadas, e na temporada seguinte, a vítima da vez era outra. Uma menina gordinha, de bochechas rosadas, simpática. Foi escolhida vítima. Não falávamos com ela. Não chamávamos pra brincar. Eu achei ótimo que não era eu a escolhida da vez, e tratei de destratar a menina também. Um dia a noite, não lembro direito o que houve, se foi uma piadinha, se ignoraram a menina, mas ela teve um ataque nervoso junto com uma crise de choro. Chamaram a enfermeira que levou um chá, um calmante, alguma coisa, e a diretora do acampamento. Depois que a menina contou o que tinha acontecido, a diretora olhou pra mim e falou: " Então a Sra. também está metida nisso". Senti muita vergonha. E muito remorso. Lembrei de uma coisa que minha mãe sempre disse "Eu já passei fome, frio, medo, necessidade, e eu consigo conviver com tudo, menos com remorso". Ver o que eu tinha causado naquela menina era mais doloroso do que o isolamento da temporada anterior.

Sim eu tenho uma mãe que deveria ser distribuída em potes pela rede pública de saúde.

Meu irmão uma vez, para "aparecer" para os amigos, caçoou de uma menina que tinha uma mancha no olho. Contei para a minha mãe. Ela não brigou. Explicou como estava decepcionada com meu irmão, falou das consequências do que ele tinha feito e ele ficou tão impressionado com tudo, que no dia seguinte, voluntariamente, pediu desculpas a menina.

E com essas pancadas que você dá e leva na infãncia e na adolescência, vivendo a dor, e vendo a dor que causou nos outros é que paramos (ou deveríamos parar) de causar mágoas.

Vida chata? Não. Eu e meus amigos nos "alopramos" o tempo inteiro. Pelo peso, pela calvice, pela frescura, pelo defeito no pé, pela cor da pele, pelo cabelo, pela gafe...chega a cansar. Mas é uma "zuação" com muito amor envolvido. Já chegou a acontecer de um amigo brincar com o peso de outra, passar do limite, e ela me ligar chorando. Meu amigo não sabia o que fazer para se redimir. Por que só é engraçado quando TODO MUNDO ri. Só é aceitável quando NINGUÉM chora. Só é amizade quando se está imerso em respeito.

Eu lamento muito quando vejo adultos sendo tão cruéis, tão segregadores, disperdiçando tantas oportunidades de ampliarem seu lugar seguro.

E a prática é tão comum que já ganha definição nos livros doutrinários como "Assédio Moral Horizontal". Perpetuamos e alimentamos esse comportamento, que deveria ter sido deixado pra trás. Fizemos a inserção desse mal em nosso trabalho.

Passamos a nos isolar para sobreviver.

O caminho do sonho é solitário, porque ninguém pode te fazer subir, crescer, passar. É a sua força, o seu crescimento, a sua dedicação, a sua disciplina que te levarão até ele. Mas dispense a solidão!

Busque o equilíbrio, busque a sanidade mental, busque a leveza.

Seus amigos estão ai fora! Em algum lugar, prontos para serem achados e te entender e te respeitar, prontos para fazer piada sobre a cor que você está por ficar tanto tempo na cabine, para encher a paciência sobre quanto tempo ainda vai levar para a sua posse. Falar que quando você passar vai pagar o churrasco, o jantar, as férias, os presentes.

Seus amigos estão por ai, prontos para serem achados e fidelizados. E eles vão implicar com você por amor. Vão torcer por você antes da prova. Vão te mandar editais de concursos que você não vai fazer, porque eles não têm muita ideia do que você quer, mas sabem que é importante para você. Vão se oferecer para te dar carona para a prova. Vão ficar acompanhando a publicação da lista de aprovados, porque você tá nervoso demais para olhar. Vão pedir licença do trabalho para ir na sua posse. Vão fazer da sua alegria a deles.

Seus amigos estão ai fora. Ou ai dentro (da cabine, do cursinho).

Existem amigos para todo mundo. Por que somos todos diferentes.O que une amigos é algo muito louco e inexplicável, porque amizade não tem regra.

Faça amigos. Para te acompanhar na caminhada e para depois! E para sempre!

E cara, se estiver muito difícil, muito trash, muito complicado, pode me mandar um inbox! Amigos nunca são demais e ninguém merece a dor de viver sozinho!


 
 
 

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